Me chamo Aline Nalon, tenho 22 anos e iniciei a minha prática teatral aos 16. Mesmo período o qual terminava o ensino médio, e me dedicava ao vestibular para licenciatura em teatro na UFRN.
Através de uma oficina ministrada por Ana Luiza Folly, para atores iniciantes, tive a oportunidade de conhecer alguns artistas locais e pela primeira vez, o conhecimento da prática teatral de forma profissional, até então exercida apenas na forma amadora e sonhadora nos corredores da escola.
No ano seguinte, 2007 iniciava na UFRN a minha graduação no curso que almejei. Com 17 anos e sem bagagem alguma, além da oficina de 15 horas do ano anterior, me deparei com um universo totalmente desconhecido, repleto de pessoas com referências teóricas e argumentações em cima de argumentações das falas adversas. Neste ano pude sentir o que significava se "sentir um peixe fora da água".
O sonho de ser atriz, me levou além das perspectivas e bem menos de onde esperei chegar até o momento. Foi neste período que descobri a licenciatura, até então desconhecia o termo, o qual seria a minha formação exatamente, e afirmo que grande parte da turma ingressou nessa mesma perspectiva, uns mais conscientes e outros menos.
Busquei acompanhar o que a Universidade me exigia, mas não fui muito longe. No segundo período já senti a necessidade do trancamento de uma disciplina. Sem orientação acadêmica não discernia sobre projetos e pesquisas de extensão, carga horária complementar, e uma série de outras informações que fui descobrir lá na frente, quando já não acreditava mais no sonho que havia planejado realizar.
Os anos seguintes vieram de crises em cima de crises, por diversos fatores. O curso disponibilizado apenas no turno da manhã, dificulta a inserção do mercado de trabalho, e para estudar necessitamos de investimento, para investir precisamos de verba, para termos verbas exige-se fonte, e quem não vem de família de classe média alta, como eu, precisa fazer escolhas estratégicas de sobrevivência. O que resultou na evasão de disciplinas, trancamentos, e reprovações, principalmente pela falta de compreensão de parte dos docentes e questões burocráticas.
Paralelo a esse universo acadêmico que consumia a cada dia o meu sonho, transformando-o em pesadelo, em desmotivação e tristeza, existiu o universo da coragem, determinação, e crescimento de uma profissional que mesmo sem perspectiva alguma acadêmica, e sem se quer acreditar em si viu portas se abrirem e manteve a luta (sem sucesso) nos estudos.
Meu primeiro espetáculo, foi inesquecível, pelas atribulações de um grupo de atores em formação, se descobrindo no palco através de um espetáculo infantil. Avoar de Vladimir Capella, me instigou a entrega no palco, o qual nunca havia pisado anteriormente, foram quase 3 anos de convivência com um grupo registrado pela diversidade no elenco, foram quase 3 anos descobrindo o que era a convivência em grupo, os desafios de viagens, de imprevistos, de realizações e frustrações, até o desligamento imposto pelo diretor. Confesso que fui as lágrimas no momento, mas hoje sei que foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Foi a partir daí que descobrir a caminhada individual e plantei tantas outras sementes, me descobri capaz, estudei e me desenvolvi, saí de um estado estático e me permiti ousar.
Neste mesmo universo paralelo a Universidade, me descobri arte - educadora, através de um projeto social, senti o peso da responsabilidade de educar através do teatro, e praticar a arte cênica através da educação. Foi uma ano e meio a frente da oficina de teatro do Projeto Irmão Lourenço, no Centro Marista de Juventude Natal, onde através da atuação comecei a entender a prática docente, até então apenas refletida na Universidade. Aprendi a facilitar um processo e me apaixonei, pela área que desconhecia.
Por motivos maiores, almejei voos além daquele espaço, o qual possuo um vínculo afetivo até hoje (e atuo profissionalmente em outra área), e segui para uma nova caminhada docente. A frente da disciplina de artes no Colégio Instituto Brasil, para os alunos do ensino fundamental II. Mas um período marcante, a responsabilidade do ensino formal, me proporcionou a certeza de,que apesar da insatisfação acadêmica, me realizava na profissão escolhida.
Nas entrelinhas dessa construção, ainda rolaram muitas facilitações em oficinas, esquetes, capacitações, aprendizagem e ensinamentos, e um reencontro com Ana Luiza Folly, através de outra formação no mesmo espaço inicial, momento este que percebi o quanto estava aprimorando os meus conhecimentos e ainda precisava de mais empenho.
|Em 2011, o ano previsto para a colação de grau, novas transformações. Não me sentia segura de determinadas práticas, já não mais acreditava naquele espaço que estava inserida, pelos motivos já expostos e tantos outros excluídos da memória para não me torturar, e depois de ter relutado o quanto pude, criei coragem perante minha família e meu orgulho, e me desliguei parcialmente do meu sonho.
Estou com o curso trancado, com histórico ridículo (mas vivências que nota alguma supre) e atuando em uma área totalmente distinta. Estou auxiliar administrativo e estudante de gestão pública.
Lá no fundo ainda o coração pulsa para concluir, ou reiniciar a vivência do universo acadêmico, as oportunidades (tentações) insistem em aparecer em meu caminho. Mas a incerteza do reconhecimento, e do suporte de uma orientação digna, me determinam permanecer assim, sem certezas.
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